Nota 14 — Registe-se, a título de curiosidade, que o tema religioso fora motivo de acesa polémica entre Raul Proença e Arthur Bivar, nos primeiros meses de 1909. O primeiro utilizava o jornal "Vanguarda", o segundo retrucava no "Portugal". A polémica, uma das que Raul Proença dedicou ao tema, iniciou-se com um artigo de sua autoria publicado a 27 de Janeiro, só vindo a encerrar a 17 de Março. Em debate "Sciencia e Catholicismo". Para Proença, progresso e liberdade não rimavam com religião:
"É um erro — querer pôr de accordo o progresso e a religião.
É uma heresia — querer ser ao mesmo tempo pela liberdade e pela egreja (…)
Vejam se ha alguma coisa de mais antinomico com as conquistas da Sciencia e do Progresso. Segundo a Sciencia, parar é morrer, evoluir é viver. As ideias transformam-se, as nações progridem, os povos emancipam-se. Segundo a Religião, não se pensa o que se póde pensar, mas o que a Egreja quer que se pense. Segundo ella, o povo deve ficar na perpetua escravidão, escravo de reis e de tyrannos, porque, segundo Gregorio XVI, 'não tem o direito de fallar em reivindicações'!"
Pires, Daniel. "Raul Proença. Polémicas", Publicações D. Quixote, Lisboa, 1988, pág. 209 a 227.
Blog integrado nas comemorações do Centenário da Implantação da República Portuguesa. Contém os textos do livro "Commercio da Lousã - 500 dias até à República". Obra de Dinis Manuel Alves, edição da EPL em parceria com a Câmara Municipal da Lousã
sexta-feira, 24 de julho de 2009
O elemento clerical reaccionario
O número 16, de 24 de Julho de 1909, abria com a transcrição de um artigo publicado no jornal "A Lanterna", e que tratava dos jesuítas (Nota 13). Eis a justificação do recurso à "Lanterna", e para este assunto específico:
"A actividade em que ultimamente tem entrado o elemento clerical reaccionario, para dominar no paiz e reconquistar o poderio, de absoluta supremacia que teve em eras passadas, pede um trabalho persistente e seguro de todos os liberaes, para conjurar o tenebroso perigo que ameaça a sociedade portugueza.
Uma recente publicação, A Lanterna, considera e bem, que para uma acção de luta contra esse perigo, contra o ultramontanismo, se torna necessario divulgar, tornar conhecida a organisação da tenebrosa seita. E dá n'esse capitulo, notas bem curiosas e que pelo muito interesse que teem, aqui archivamos em transcripção". (Nota 14)
Nota 13 — "A Lanterna" era um opúsculo semanal de inquérito à vida religiosa e eclesiástica portuguesa, e tinha como director o jornalista Avelino de Almeida.
"A actividade em que ultimamente tem entrado o elemento clerical reaccionario, para dominar no paiz e reconquistar o poderio, de absoluta supremacia que teve em eras passadas, pede um trabalho persistente e seguro de todos os liberaes, para conjurar o tenebroso perigo que ameaça a sociedade portugueza.
Uma recente publicação, A Lanterna, considera e bem, que para uma acção de luta contra esse perigo, contra o ultramontanismo, se torna necessario divulgar, tornar conhecida a organisação da tenebrosa seita. E dá n'esse capitulo, notas bem curiosas e que pelo muito interesse que teem, aqui archivamos em transcripção". (Nota 14)
Nota 13 — "A Lanterna" era um opúsculo semanal de inquérito à vida religiosa e eclesiástica portuguesa, e tinha como director o jornalista Avelino de Almeida.
quinta-feira, 16 de julho de 2009
Exhibiu algumas sentidas e commoventes marchas fúnebres
O jornal não revelava as simpatias políticas do abastado proprietário. Não sabemos se, com saúde, Joaquim Vaz Collaço teria comparecido ao comício no salão de Bernardino Padilha. Finou-se em Foz de Arouce no dia dos tumultos na Lousã. Foi a enterrar no dia seguinte, com mágoa da família e lucro dos pobres…
"O seu enterro, que se realisou no dia 12 pelas 5 e meia horas da tarde foi muito concorrido, o que bem attesta a grande sympathia de que gosava.
Acompanhava o feretro, alem da Irmandade do S. S.mo. e da Philarmonica Fraternidade Poiarense, — que exhibiu algumas sentidas e commoventes marchas fúnebres durante o trajecto, — um grande numero de amigos e parentes do finado, de Foz d'Arouce, Louzã e Poiares.
Na rectaguarda do prestito seguia um grande numero de pobres a quem foi distribuida uma esmola".
"O seu enterro, que se realisou no dia 12 pelas 5 e meia horas da tarde foi muito concorrido, o que bem attesta a grande sympathia de que gosava.
Acompanhava o feretro, alem da Irmandade do S. S.mo. e da Philarmonica Fraternidade Poiarense, — que exhibiu algumas sentidas e commoventes marchas fúnebres durante o trajecto, — um grande numero de amigos e parentes do finado, de Foz d'Arouce, Louzã e Poiares.
Na rectaguarda do prestito seguia um grande numero de pobres a quem foi distribuida uma esmola".
Tiros de "rewolver" e uma bengala perdida
A secção vulgarmente designada de "Carteira", na qual se dava conta das chegadas, partidas, doenças e demais fait-divers dos ilustres, dedicava um espacinho a Samuel dos Santos:
"Veio de Lisboa assistir ao comicio de domingo este nosso amigo e dedicado correligionario, de Serpins".
O jornal, no que aos tumultos dizia respeito, reportou lançamento de pedras e alguns tiros de "rewolver". Não notou qualquer desaguisado tratado à bengalada — a bengala perdida num estabelecimento hoteleiro da vila não deveria pertencer a nenhum dos excursionistas:
"BENGALA — Está depositada no Hotel Carranca, que o proprietario d'esta casa entregarà a quem provar pertencer-lhe, obrigando-se o dono da referida bengala a pagar a importancia d'este annuncio".
"Veio de Lisboa assistir ao comicio de domingo este nosso amigo e dedicado correligionario, de Serpins".
O jornal, no que aos tumultos dizia respeito, reportou lançamento de pedras e alguns tiros de "rewolver". Não notou qualquer desaguisado tratado à bengalada — a bengala perdida num estabelecimento hoteleiro da vila não deveria pertencer a nenhum dos excursionistas:
"BENGALA — Está depositada no Hotel Carranca, que o proprietario d'esta casa entregarà a quem provar pertencer-lhe, obrigando-se o dono da referida bengala a pagar a importancia d'este annuncio".
As senhoras que mandaram as creadas desfraldar panos negros
A edição de 16 de Julho não se finava pelo relato dos distúrbios, e pela publicação de algumas das intervenções. A páginas três surgiam algumas notas à margem — o proprietário do jornal desmentia ter afirmado que o pessoal da Fábrica do Penedo também atirara pedras; um padre não nomeado arregimentara os seus criados e grande número de visinhos para colaborarem na arruaça; as portas da rectaguarda do salão onde decorrera o comício foram arrombadas mais tarde, "tendo o pobre do tanoeiro que ali dorme com sua familia, de fugirem d'ali a pedirem guarida á visinhança"; e as perseguições a começarem…
"Começam as perseguições: — processos a esmo, ameaças a todos que tiveram a ousadia de ir ouvir os oradores.
Aos padeiros disseram na segunda-feira que fossem vender o pão aos republicanos. Já se vê porque não deixaram comer no domingo a enorme quantidade de pão que tinham manipulado para os excursionistas.
Estamos mesmo a vêr que se se chega a proclamar a republica, muita gente por ahi se amua e não mais come; antes isso" — rematava com ironia o autor destas notas, lamentando "do fundo do nosso coração, com a força que nos dá a nossa consciencia, que só na Louzã se pratiquem selvagerias como as que acabamos de presenciar, venha a sua causa de onde quer que venha".
A última nota dava conta das senhoras que mandaram as creadas desfraldar panos negros, à chegada dos excursionistas. Panos que anunciavam o terror, na opinião do articulista. A atitude de tais senhoras ficava para já sem "nome":
"Não damos o nome porque ainda algum respeito temos pelas ideias dos outros, mas rasgada a cortesia de todo para comnosco, irá tudo".
Para os próximos números, o "Commercio da Louzã" prometia extractos do discurso de Ramada Curto, e de outros oradores do comício de 11 de Julho.
"Começam as perseguições: — processos a esmo, ameaças a todos que tiveram a ousadia de ir ouvir os oradores.
Aos padeiros disseram na segunda-feira que fossem vender o pão aos republicanos. Já se vê porque não deixaram comer no domingo a enorme quantidade de pão que tinham manipulado para os excursionistas.
Estamos mesmo a vêr que se se chega a proclamar a republica, muita gente por ahi se amua e não mais come; antes isso" — rematava com ironia o autor destas notas, lamentando "do fundo do nosso coração, com a força que nos dá a nossa consciencia, que só na Louzã se pratiquem selvagerias como as que acabamos de presenciar, venha a sua causa de onde quer que venha".
A última nota dava conta das senhoras que mandaram as creadas desfraldar panos negros, à chegada dos excursionistas. Panos que anunciavam o terror, na opinião do articulista. A atitude de tais senhoras ficava para já sem "nome":
"Não damos o nome porque ainda algum respeito temos pelas ideias dos outros, mas rasgada a cortesia de todo para comnosco, irá tudo".
Para os próximos números, o "Commercio da Louzã" prometia extractos do discurso de Ramada Curto, e de outros oradores do comício de 11 de Julho.
Um desordenado berreiro de vivas á Monarchia
O comício não haveria de decorrer na "ordem" desejada. Os sub-títulos da manchete da edição de 16 de Julho eram bem sinal disso mesmo:
"Chegada dos excursionistas — A contra-manifestação — Apedrejamento á casa do sr. Padilha onde se realisou o comicio e aos comboios que conduziam para Coimbra os excursionistas — Tiros — Arrombamento pela madrugada do dia seguinte 12 do corrente — Outras noticias".
Suficiente para percebermos que a Lousã viveu um domingo de autêntica polvorosa. O comboio especial trouxera cerca de 500 republicanos vindos de Coimbra para assistirem ao comício. Logo no percurso da estação ao Centro Republicano "Progresso", aos vivas aos chefes do Partido Republicano sucederam-se manifestações de apoio à monarquia, estas da autoria de contra-manifestantes.
"… Um desordenado berreiro de vivas á Monarchia, sendo a ultima palavra d'esta phrase, pronunciada pela maior parte d'essa pobre gente, sem a primeira syllaba, dando assim a ideia nitida da consciencia de quem levantava os vivas á Monarchia" — lia-se no jornal lousanense.
Aquando da primeira salva de palmas ao orador, "o nosso illustre conterraneo e talentoso advogado Dr. Fernandes Costa (…) de cá de fora apedrejavam as janellas, partindo muitos vidros, disparando-se alguns tiros de rewolver".
Fernandes Costa conseguiu suster os ânimos exaltados dos republicanos, que pretendiam deixar a sala para, no exterior, tirarem desforço dos monárquicos. De seguida usou da palavra "o dr. Antonio Augusto, parocho de Villa Secca".
"Os desordeiros eram os mesmos que em 1901 trouxeram toda a Louzã inquieta com os seus disturbios e os seus desrespeitos ás auctoridades; com a diferença de que então combatiam a eleição d'uma camara que sustou a venda dos baldios, que foram extorquidos ao livre disfructo dos pobres, recebendo o nosso municipio uma insignificancia por esses terrenos que hoje são propriedade dos abastados, e hoje promovem tumultos para que o pobre povo não oiça como são gastos os dinheiros que annualmente são arrancados á sua miseria, sem que com elles se trate de desenvolver as industrias, o commercio, a agricultura, a fim de evitar a enorme emigração para o Brazil e outros paizes" — acrescentava o "Commercio da Louzã", em prosa inaugurada lembrando uma vez mais o "Programma" enunciado no seu número inaugural:
"É necessario que mais uma vez digamos aos nossos conterraneos que o nosso jornal nascido para tratar dos interesses da comarca, se não affastará do seu programma, apesar das ideias republicanas dos seus directores. Enquanto puder viver será esta a sua linha de conducta, não podendo, morrerá no campo da honra".
Em consequência, prometia-se imparcialidade na descrição dos graves tumultos de domingo. Mas tal como o anúncio da realização do comício vinha prenhe de entrelinhas "republicanas", também a narração dos acontecimentos de domingo não conseguiria esconder a alma republicana dos seus directores.
"Vozearia arruaceira", "malta açulada", "desordenado berreiro", "pobre gente", "inconscientes", eram alguns dos epítetos elencados para classificar os contra-manifestantes.
A inauguração do Centro Republicano da Lousã ficava assim manchada por graves distúrbios, e haveria de constituir tema obrigatório das edições seguintes do "Commercio da Louzã".
"Chegada dos excursionistas — A contra-manifestação — Apedrejamento á casa do sr. Padilha onde se realisou o comicio e aos comboios que conduziam para Coimbra os excursionistas — Tiros — Arrombamento pela madrugada do dia seguinte 12 do corrente — Outras noticias".
Suficiente para percebermos que a Lousã viveu um domingo de autêntica polvorosa. O comboio especial trouxera cerca de 500 republicanos vindos de Coimbra para assistirem ao comício. Logo no percurso da estação ao Centro Republicano "Progresso", aos vivas aos chefes do Partido Republicano sucederam-se manifestações de apoio à monarquia, estas da autoria de contra-manifestantes.
"… Um desordenado berreiro de vivas á Monarchia, sendo a ultima palavra d'esta phrase, pronunciada pela maior parte d'essa pobre gente, sem a primeira syllaba, dando assim a ideia nitida da consciencia de quem levantava os vivas á Monarchia" — lia-se no jornal lousanense.
Aquando da primeira salva de palmas ao orador, "o nosso illustre conterraneo e talentoso advogado Dr. Fernandes Costa (…) de cá de fora apedrejavam as janellas, partindo muitos vidros, disparando-se alguns tiros de rewolver".
Fernandes Costa conseguiu suster os ânimos exaltados dos republicanos, que pretendiam deixar a sala para, no exterior, tirarem desforço dos monárquicos. De seguida usou da palavra "o dr. Antonio Augusto, parocho de Villa Secca".
"Os desordeiros eram os mesmos que em 1901 trouxeram toda a Louzã inquieta com os seus disturbios e os seus desrespeitos ás auctoridades; com a diferença de que então combatiam a eleição d'uma camara que sustou a venda dos baldios, que foram extorquidos ao livre disfructo dos pobres, recebendo o nosso municipio uma insignificancia por esses terrenos que hoje são propriedade dos abastados, e hoje promovem tumultos para que o pobre povo não oiça como são gastos os dinheiros que annualmente são arrancados á sua miseria, sem que com elles se trate de desenvolver as industrias, o commercio, a agricultura, a fim de evitar a enorme emigração para o Brazil e outros paizes" — acrescentava o "Commercio da Louzã", em prosa inaugurada lembrando uma vez mais o "Programma" enunciado no seu número inaugural:
"É necessario que mais uma vez digamos aos nossos conterraneos que o nosso jornal nascido para tratar dos interesses da comarca, se não affastará do seu programma, apesar das ideias republicanas dos seus directores. Enquanto puder viver será esta a sua linha de conducta, não podendo, morrerá no campo da honra".
Em consequência, prometia-se imparcialidade na descrição dos graves tumultos de domingo. Mas tal como o anúncio da realização do comício vinha prenhe de entrelinhas "republicanas", também a narração dos acontecimentos de domingo não conseguiria esconder a alma republicana dos seus directores.
"Vozearia arruaceira", "malta açulada", "desordenado berreiro", "pobre gente", "inconscientes", eram alguns dos epítetos elencados para classificar os contra-manifestantes.
A inauguração do Centro Republicano da Lousã ficava assim manchada por graves distúrbios, e haveria de constituir tema obrigatório das edições seguintes do "Commercio da Louzã".
terça-feira, 7 de julho de 2009
Uma pobre rapariga, com o labio superior completamente rachado
Ainda nesta edição, chamava-se a atenção das autoridades para as irrequitudes de alguns garotos, que se divertiam atirando pedras às árvores:
"Á auctoridade competente — Chamamos a atenção da auctoridade competente para o facto de os garotos todos os dias se entreterem a atirar pedradas ás arvores da Praça do Municipio, com grande risco da segurança dos transeuntes que, com a imprudencia do rapazio, podem ser attingidos pelas pedradas.
Ainda ha dias vimos uma pobre rapariga, com o labio superior completamente rachado, sendo dito por ella que tinha sido uma pedrada atirada por um rapaz.
Alem d'isto, resulta tambem o prejuizo para as proprias arvores, que estão sendo damnificadas com o furor dos rapazes.
É preciso lembrarmo-nos de que vivemos n'uma villa, e não em alguma povoação sertaneja.
Ahi fica o competente aviso.
Dias depois, os adultos haveriam de imitar os garotos. Os alvos não eram agora as árvores da Praça do Município, mas os excursionistas republicanos vindos de Coimbra.
"Á auctoridade competente — Chamamos a atenção da auctoridade competente para o facto de os garotos todos os dias se entreterem a atirar pedradas ás arvores da Praça do Municipio, com grande risco da segurança dos transeuntes que, com a imprudencia do rapazio, podem ser attingidos pelas pedradas.
Ainda ha dias vimos uma pobre rapariga, com o labio superior completamente rachado, sendo dito por ella que tinha sido uma pedrada atirada por um rapaz.
Alem d'isto, resulta tambem o prejuizo para as proprias arvores, que estão sendo damnificadas com o furor dos rapazes.
É preciso lembrarmo-nos de que vivemos n'uma villa, e não em alguma povoação sertaneja.
Ahi fica o competente aviso.
Dias depois, os adultos haveriam de imitar os garotos. Os alvos não eram agora as árvores da Praça do Município, mas os excursionistas republicanos vindos de Coimbra.
O povo espera com curiosidade a festa dos republicanos
Para o comício da Lousã, o "Commercio" também augurava ordem:
"O povo espera com curiosidade a festa dos republicanos, e estamos certos de que se a manifestação se limitar apenas ao comicio no recinto já designado, que não haverá a mais pequena nota discordando assim uma prova da sua hospitalidade aos excursionistas que por certo irão dizer que a Louzã merece ser visitada não só pelas suas bellezas naturaes que são importantes como ainda pela corsura do seu povo.
Lá iremos, para no proximo numero fazer a nossa modesta apreciação".
"O povo espera com curiosidade a festa dos republicanos, e estamos certos de que se a manifestação se limitar apenas ao comicio no recinto já designado, que não haverá a mais pequena nota discordando assim uma prova da sua hospitalidade aos excursionistas que por certo irão dizer que a Louzã merece ser visitada não só pelas suas bellezas naturaes que são importantes como ainda pela corsura do seu povo.
Lá iremos, para no proximo numero fazer a nossa modesta apreciação".
Aos rancores dos monarchicos não responderemos com a pena de Talião
Um discurso que Bernardino Machado proferira num comício em Viseu, merecia relevo na edição treze, de 29 de Junho. No jornal seguinte, uma breve anunciava comício republicano também na Lousã:
"No proximo domingo terá logar no grande salão do sr. Bernardino Lopes Padilha, proximo da estação um comicio promovido pelo Centro Ramada Curto, de Coimbra, em que usarão da palavra além do nosso illustre conterraneo sr. dr. Fernandes Costa, que tão considerado é entre nós pelo seu muito saber, os grandes propagandistas da ideia republicana os srs:
Dr. Malva do Valle, Dr. Julio da Fonseca, Ramada Curto, José Cardoso, Julio Gonçalves, Pestana Junior, Carneiro Franco, Mario Malheiros e Floro Henriques, constando-nos á ultima hora que virá o sr. Dr. Bernardino Machado.
Este comicio que trará á Louzã mais de 400 pessoas, entre as quaes a maior parte virá por aproveitar o comboio especial a preços baratissimos, para apreciar as suas bellezas ha-de forçosamente ficar bem gravado na memoria de todos pela ordem como veem sendo feitos os comicios d'esta natureza".
O ênfase na "ordem" sabia a pedido aos lousanenses. Aos republicanos de nada interessavam tumultos, sendo estes o pior que lhes podia acontecer, dando pretextos de bandeja aos seus detractores, que assim e com facilidade poderiam anunciar ao povo pacato ou monarquia ou barafunda.
Bernardino Machado já em Viseu repisara a tecla da ordem, de um partido republicano pacificador:
"O partido republicano é hoje a unica força pacificadora da nação, porque é o unico partido que se apoia nos dictames da razão publica (…) Suceda, porem, o que suceder, aos embustes, ás degradações, ás violências e aos rancores dos monarchicos não responderemos com a pena de Talião".
O partido republicano queria-se da tolerância, e sinal disso o facto de, no dito comício de Viseu até se terem tolerado vivas à monarquia "em contraste com o que succede fóra das assembleias republicanas onde os vivas á Republica são declarados subversivos".
Terminando, Bernardino Machado "pediu que lá fora mantivessem todos a mesma ordem que tinha reinado naquella assembleia".
"No proximo domingo terá logar no grande salão do sr. Bernardino Lopes Padilha, proximo da estação um comicio promovido pelo Centro Ramada Curto, de Coimbra, em que usarão da palavra além do nosso illustre conterraneo sr. dr. Fernandes Costa, que tão considerado é entre nós pelo seu muito saber, os grandes propagandistas da ideia republicana os srs:
Dr. Malva do Valle, Dr. Julio da Fonseca, Ramada Curto, José Cardoso, Julio Gonçalves, Pestana Junior, Carneiro Franco, Mario Malheiros e Floro Henriques, constando-nos á ultima hora que virá o sr. Dr. Bernardino Machado.
Este comicio que trará á Louzã mais de 400 pessoas, entre as quaes a maior parte virá por aproveitar o comboio especial a preços baratissimos, para apreciar as suas bellezas ha-de forçosamente ficar bem gravado na memoria de todos pela ordem como veem sendo feitos os comicios d'esta natureza".
O ênfase na "ordem" sabia a pedido aos lousanenses. Aos republicanos de nada interessavam tumultos, sendo estes o pior que lhes podia acontecer, dando pretextos de bandeja aos seus detractores, que assim e com facilidade poderiam anunciar ao povo pacato ou monarquia ou barafunda.
Bernardino Machado já em Viseu repisara a tecla da ordem, de um partido republicano pacificador:
"O partido republicano é hoje a unica força pacificadora da nação, porque é o unico partido que se apoia nos dictames da razão publica (…) Suceda, porem, o que suceder, aos embustes, ás degradações, ás violências e aos rancores dos monarchicos não responderemos com a pena de Talião".
O partido republicano queria-se da tolerância, e sinal disso o facto de, no dito comício de Viseu até se terem tolerado vivas à monarquia "em contraste com o que succede fóra das assembleias republicanas onde os vivas á Republica são declarados subversivos".
Terminando, Bernardino Machado "pediu que lá fora mantivessem todos a mesma ordem que tinha reinado naquella assembleia".
segunda-feira, 22 de junho de 2009
Média de uma eleição cada 17 meses
Nota 12 — "A eleição geral de deputados era um dos acontecimentos mais regulares e frequentes da vida política portuguesa. Entre Março de 1890 e Agosto de 1910, houve em Portugal 14 eleições gerais, ou uma média de uma eleição cada 17 meses. Nos 20 anos anteriores, entre 1870 e 1890, tinha havido 10 eleições, e entre 1850 e 1870 outras 10. Assim, um português nascido em 1840 teria, em 1910, assistido durante a sua vida adulta a cerca de 30 eleições gerais, ou uma em cada dois anos".
Ramos, Rui. "História de Portugal", direcção de José Mattoso, Círculo de Leitores, 1994, sexto volume, pág. 118.
Ramos, Rui. "História de Portugal", direcção de José Mattoso, Círculo de Leitores, 1994, sexto volume, pág. 118.
Se não me engano, a revolução ameaça-nos de perto...
Nota 10 — A aproximação inevitável da revolução começava a presssentir-se. José Luciano de Castro, em carta ao rei, prevenia:
"O partido republicano avança a passos rápidos. Já tomou posse da Câmara Municipal e de grande maioria das juntas de paróquia de Lisboa, e fez eleger há dias o presidente da Sociedade de Geografia, derrotando um dos ministros, e, no dia 2 do corrente, sob pretexto de afirmação de princípios liberais, promoveu uma imponentíssima e extraordinária manifestação republicana que terminou por uma sessão tumultuosa na Câmara dos Deputados, em que alguns deputados deram vivas à República correspondidos por calorosas manifestações das galerias, onde só estavam republicanos. Nesse movimento estavam confundidos republicanos e dissidentes". E mais adiante: "Se não me engano, a revolução ameaça-nos de perto…".
Júlio de Vilhena, pessoalmente, fazia ao monarca avisos idênticos.
Efectivamente, a revolução caminhava a passos largos. O almirante Cândido dos Reis desenvolvia na Marinha uma acção muito intensa, aliciando numerosos oficiais. O novo Juiz de Instrução Criminal ia apanhando várias malhas da organização secreta Carbonária. Mas, justamente, os perigos e as ameaças aceleravam a preparação revolucionária. Os chefes mal podiam já conter os conjurados".
Peres, Damião. Obra citada, pág. 451.
"O partido republicano avança a passos rápidos. Já tomou posse da Câmara Municipal e de grande maioria das juntas de paróquia de Lisboa, e fez eleger há dias o presidente da Sociedade de Geografia, derrotando um dos ministros, e, no dia 2 do corrente, sob pretexto de afirmação de princípios liberais, promoveu uma imponentíssima e extraordinária manifestação republicana que terminou por uma sessão tumultuosa na Câmara dos Deputados, em que alguns deputados deram vivas à República correspondidos por calorosas manifestações das galerias, onde só estavam republicanos. Nesse movimento estavam confundidos republicanos e dissidentes". E mais adiante: "Se não me engano, a revolução ameaça-nos de perto…".
Júlio de Vilhena, pessoalmente, fazia ao monarca avisos idênticos.
Efectivamente, a revolução caminhava a passos largos. O almirante Cândido dos Reis desenvolvia na Marinha uma acção muito intensa, aliciando numerosos oficiais. O novo Juiz de Instrução Criminal ia apanhando várias malhas da organização secreta Carbonária. Mas, justamente, os perigos e as ameaças aceleravam a preparação revolucionária. Os chefes mal podiam já conter os conjurados".
Peres, Damião. Obra citada, pág. 451.
Nós conhecemos bem a incompetencia de D. Manuel
Quatro colunas de merecidas loas a Montenegro, a quinta coluna guardada para a actualidade política. A iminência da dissolução da câmara dos deputados era motivo para mais uma zurzidela nos poderes públicos instalados:
"A dissolução da camara dos deputados é mais um golpe de estado, que não podemos nem devemos consentir (…) é necessario que o povo mande um dia, e que diga aos politicos de officio que isto ainda não é o paiz por elles conquistado; que attendam ao que reclamamos com justiça; que é preciso que se resolvam com a maior urgencia as questões agora suscitadas". (Nota 10)
Novidade a assinalar: o rei era agora visado directamente nas críticas do periódico lousanense:
"Nós conhecemos bem a incompetencia de D. Manuel, para Chefe da nação. Creança ainda; não dá valor ao juramento que fez perante os representantes do paiz, mas sabem muito bem os que o rodeiam, que esse juramento deve ser cumprido". (Nota 11)
A "monarquia nova" esclerosava de velhos problemas…
"A monarchia nova tem commetido erros graves, desde o desprezo a que deitou as colonias que estão em risco de desapparecerem, até ao escandalo do addiamento sucessivo do parlamento e ameaça de dissolução. Durante o reinado de D. Manuel já foram empenhados os rendimentos provenientes da concessão do monopolio dos phosphoros, as receitas ainda livres dos caminhos de ferro do estado e as setenta e duas mil obrigações da Companhia Real dos Caminhos de Ferro.
Durante o reinado de D. Manuel já tivemos quatro governos que nada fizeram que nos interesse. É precizo que assim não continue". (Nota 12)
Nota 11 — D. Manuel II subira ao trono com apenas 18 anos, na sequência dos acontecimentos de 1 de Fevereiro de 1908 — assassinato de seu pai, o Rei D. Carlos, e de seu irmão, o príncipe herdeiro D. Luís Filipe.
"A dissolução da camara dos deputados é mais um golpe de estado, que não podemos nem devemos consentir (…) é necessario que o povo mande um dia, e que diga aos politicos de officio que isto ainda não é o paiz por elles conquistado; que attendam ao que reclamamos com justiça; que é preciso que se resolvam com a maior urgencia as questões agora suscitadas". (Nota 10)
Novidade a assinalar: o rei era agora visado directamente nas críticas do periódico lousanense:
"Nós conhecemos bem a incompetencia de D. Manuel, para Chefe da nação. Creança ainda; não dá valor ao juramento que fez perante os representantes do paiz, mas sabem muito bem os que o rodeiam, que esse juramento deve ser cumprido". (Nota 11)
A "monarquia nova" esclerosava de velhos problemas…
"A monarchia nova tem commetido erros graves, desde o desprezo a que deitou as colonias que estão em risco de desapparecerem, até ao escandalo do addiamento sucessivo do parlamento e ameaça de dissolução. Durante o reinado de D. Manuel já foram empenhados os rendimentos provenientes da concessão do monopolio dos phosphoros, as receitas ainda livres dos caminhos de ferro do estado e as setenta e duas mil obrigações da Companhia Real dos Caminhos de Ferro.
Durante o reinado de D. Manuel já tivemos quatro governos que nada fizeram que nos interesse. É precizo que assim não continue". (Nota 12)
Nota 11 — D. Manuel II subira ao trono com apenas 18 anos, na sequência dos acontecimentos de 1 de Fevereiro de 1908 — assassinato de seu pai, o Rei D. Carlos, e de seu irmão, o príncipe herdeiro D. Luís Filipe.
João Elisário de Carvalho Montenegro
Brasil que acolhera portugueses de todos os cantos, também da Lousã. João Elisário de Carvalho Montenegro era um dos filhos da terra que no Brasil jogara a sorte, e por ali fizera imensa fortuna. O Comendador não era dos que tinham os ouvidos calejados, insensíveis à miséria alheia. Bem pelo contrário, foi dos maiores beneméritos que a Lousã regista nos seus anais. O "Commercio da Louzã" de 22 de Junho de 1909 dedicava-lhe a quase totalidade da primeira página, com direito a retrato, o primeiro retrato pessoal dado à estampa em primeiras páginas, desde a edição primeira:
"(…) estampando no logar que lhe pertence, o seu retrato, expondo assim mais uma vez a consideração publica àquelle que tanta necessidade tem minorado, e que a tanto lar tem levado a felicidade; sim, porque a sua obra de caridade não tem sido só socorrer com o seu dinheiro os pobres, tem sido, o proteger e auxiliar o desenvolvimento da instrucção entre nós, na sua querida Louzã…".
"(…) estampando no logar que lhe pertence, o seu retrato, expondo assim mais uma vez a consideração publica àquelle que tanta necessidade tem minorado, e que a tanto lar tem levado a felicidade; sim, porque a sua obra de caridade não tem sido só socorrer com o seu dinheiro os pobres, tem sido, o proteger e auxiliar o desenvolvimento da instrucção entre nós, na sua querida Louzã…".
segunda-feira, 15 de junho de 2009
O Brazil de hoje já não é o açouge d'outros tempos
A notícia da morte do Presidente da República Brasileira servia para lembrar o homem que se dedicara aos desfavorecidos:
"Pouco conhecedores dos seus altos merecimentos de estadista, apenas nos limitaremos a manifestar o nosso sentir pela morte d'aquelle que em vida tanto vellou pela saude publica, pois que, por conterraneos nossos sabemos que o Brazil de hoje já não é o açouge d'outros tempos, em que as classes rudes eram abatidas pela intensidade das febres, com escandalosa indifferença dos poderes publicos".
O "Brazil de hoje", note-se, era uma República, não uma monarquia…
"Pouco conhecedores dos seus altos merecimentos de estadista, apenas nos limitaremos a manifestar o nosso sentir pela morte d'aquelle que em vida tanto vellou pela saude publica, pois que, por conterraneos nossos sabemos que o Brazil de hoje já não é o açouge d'outros tempos, em que as classes rudes eram abatidas pela intensidade das febres, com escandalosa indifferença dos poderes publicos".
O "Brazil de hoje", note-se, era uma República, não uma monarquia…
Proletários vítimas dos zangãos sociais
No número onze (15.06.1909), o título "Alimentação publica" parecia prometer texto arredado de política, dado o tema. Mas não. A deficiência na alimentação era, para o articulista "Alguem d'Algures", causa do "depauperamento phisico das raças", e consequência da "avareza e sovinice como é remunerado o proletariado que trabalha e produz, muito menos para si do que para os zangãos sociais".
Os bafejados da sorte, os capitalistas, os terratenentes comeriam tudo, e o resultado infalível traduzia-se na "fome que mata lentamente os engeitados da patria descaroavel e madrasta":
"Em conclusão: A Fome com todo o seu cortejo lugubre de misérias já penetrou em muitos lares onde os abastados e felizões nem de leve põem a sua ideia. Mas não importa porque o egoismo feroz de que estão possuidos não lhes dá azo a pensarem nos seus irmãos famintos, para só pensarem nas suas respeitáveis barrigas sempre em constantes e difficeis funções digestivas".
E nem os clamores dos jornais em defesa dos desafortunados da sorte conseguia alterar o rumo das coisas:
"Não importa que os clamores dos que soffrem e ainda dos que sentem a desgraça alheia, feitos pela boca da ?Imprensa lhe cheguem aos ouvidos calejados, porque esses clamores hão de voltar de recochete como se batessem nalguma muralha de granito, sem penetrarem nesses corações mais duros que o silex e mais frios que o gelo dos polos".
Os bafejados da sorte, os capitalistas, os terratenentes comeriam tudo, e o resultado infalível traduzia-se na "fome que mata lentamente os engeitados da patria descaroavel e madrasta":
"Em conclusão: A Fome com todo o seu cortejo lugubre de misérias já penetrou em muitos lares onde os abastados e felizões nem de leve põem a sua ideia. Mas não importa porque o egoismo feroz de que estão possuidos não lhes dá azo a pensarem nos seus irmãos famintos, para só pensarem nas suas respeitáveis barrigas sempre em constantes e difficeis funções digestivas".
E nem os clamores dos jornais em defesa dos desafortunados da sorte conseguia alterar o rumo das coisas:
"Não importa que os clamores dos que soffrem e ainda dos que sentem a desgraça alheia, feitos pela boca da ?Imprensa lhe cheguem aos ouvidos calejados, porque esses clamores hão de voltar de recochete como se batessem nalguma muralha de granito, sem penetrarem nesses corações mais duros que o silex e mais frios que o gelo dos polos".
segunda-feira, 1 de junho de 2009
A bordo ha criados portugueses
Do que o abastado largava mão, podia o operário lousanense gastá-lo nos saldos que o jornal anunciava, na mesma edição. A "Loja do Povo" prometia "explendidas occasiões que se não encontram mais". Cobertores desde 500 réis, lenços a partir de cinco. Quem tivesse a sorte de 2.500 réis amealhados e se dispusesse a gastá-los à uma na "Loja do Povo", tinha direito a "um lindo sabonete MIMOSO".
O estabelecimento de Abel Baptista também saldava, o mesmo valendo para a "Casa Louzanense"; João Lima, agente da "Singer" em Covas de Serpins, facilitava a compra "a 500 réis semanaes".
Anúncios que muitos não leriam já, fugindo à miséria em barcos da "Mala Real Ingleza", rumo à Bahia, Rio de Janeiro, Pernambuco ou Santos. Emigrassem com a ajuda do "Avon", do "Aragon", do "Danube" ou do "Araguaya", em todos a companhia prometia um supremo luxo: "A bordo ha criados portugueses".
O estabelecimento de Abel Baptista também saldava, o mesmo valendo para a "Casa Louzanense"; João Lima, agente da "Singer" em Covas de Serpins, facilitava a compra "a 500 réis semanaes".
Anúncios que muitos não leriam já, fugindo à miséria em barcos da "Mala Real Ingleza", rumo à Bahia, Rio de Janeiro, Pernambuco ou Santos. Emigrassem com a ajuda do "Avon", do "Aragon", do "Danube" ou do "Araguaya", em todos a companhia prometia um supremo luxo: "A bordo ha criados portugueses".
Aquelle que gasta a maior parte da sua existencia em proveito do abastado
A orientação socialista do jornal voltava a sinalizar-se com a inclusão, em primeira página, de um artigo intitulado "Protecção aos operarios". Na página três justificava-se a recuperação do texto, publicado quatro anos antes noutro periódico editado no concelho:
"É do 'Louzanense' de 1905 o nosso primeiro artigo, que, pela sua doutrina e pelo pouco que se tem feito, do que reclama em favor do operario, nunca é demais repeti-lo e propaga-lo entre as camadas sociaes, até que alguma coisa se faça em favor d'aquelle que gasta a maior parte da sua existencia em proveito do abastado, que olha para elle, depois de gasto, como quem olha para uma machina, já sem concerto, que se atira para o monturo das coisas inuteis".
"É do 'Louzanense' de 1905 o nosso primeiro artigo, que, pela sua doutrina e pelo pouco que se tem feito, do que reclama em favor do operario, nunca é demais repeti-lo e propaga-lo entre as camadas sociaes, até que alguma coisa se faça em favor d'aquelle que gasta a maior parte da sua existencia em proveito do abastado, que olha para elle, depois de gasto, como quem olha para uma machina, já sem concerto, que se atira para o monturo das coisas inuteis".
1 de Junho de 1909 - O doce amplexo de confraternisação
No sonho de "V.", os homens "uniram-se num doce amplexo de confraternisação":
"Os ricos deixaram de esbanjar em luxos e vaidades o que de direito pertencia aos seus irmãos famintos; acabou a distincção de castas; deixaram de existir logares reservados nas egrejas e outros logares publicos para a aristrocracia. Aristocracia e plebe fundiram-se e essa liga (sem ser metallica) chama-se Povo.
Proclamou-se um governo que tinha por divisa a Maxima Liberdade".
Escusado será dizer que o articulista sofreu forte desilusão ao acordar…
"Os ricos deixaram de esbanjar em luxos e vaidades o que de direito pertencia aos seus irmãos famintos; acabou a distincção de castas; deixaram de existir logares reservados nas egrejas e outros logares publicos para a aristrocracia. Aristocracia e plebe fundiram-se e essa liga (sem ser metallica) chama-se Povo.
Proclamou-se um governo que tinha por divisa a Maxima Liberdade".
Escusado será dizer que o articulista sofreu forte desilusão ao acordar…
1 de Junho de 1909 - O abade Paes Pinto
A 1 de Junho, o número nove do semanário lousanense voltava a ocupar a sua primeira página com temas ligados ao movimento republicano. Noticiava-se a tentativa frustrada de punição de um oficial reformado da marinha de guerra, que havia proferido conferência sobre o polémico convénio com o Transwaal, e que nela manifestara posição contrária ao referido tratado. O jornal parabenizava o ministro da marinha por ter impedido a consumação da punição ao conferencista.
O espaço mais nobre da primeira página ficava a cargo de outra transcrição, agora do jornal "O Mundo". Um artigo, o último da autoria do abade Paes Pinto, considerado pelo "Commercio da Louzã" um "espirito culto de revolucionario, a quem, de ha dezoito annos a esta parte tanto deveu o partido republicano".
O texto intitulava-se "Republica e Religião", e o jornal da Lousã, lembrando-se do que prometera no seu "Programma", tratava de desdramatizar a inclusão de tal prosa:
"Não o fazemos com o fim de servir esta ou aquella ideia, mas sim por vêrmos nas palavras do honrado sacerdote, que quaesquer que sejam as instituições liberaes, seja qual for o nome que se lhe dê, teem por dever acatar e fazer respeitar as crenças de cada um".
Na página dois, o texto da autoria de "V.", sob o título e o pretexto "As illusões d'um sonho", comportava gordo repositório dos ideais da Igualdade, Liberdade e Fraternidade.
O autor sonhava com a chegada do "grande Reformador", vindo para "resgatar a humanidade, que se debatia nas garras do Despotismo e da Tyrania"; nem acordou com o "enorme e ensurdecedor ruido" provocado pelas "ruinas d'um mundo velho, corrupto, fundado em alicerces de lodo que desabavam", e davam lugar a outro mundo, este feito "de Paz, de Amor, de Justiça e de Bondade", "inundando de uma Luz rutilante infinitamente mais intensa do que a do Astro Rei".
Repare-se na ironia subtil da chamada a final de frase, não do sol, mas do astro a quem coube em sorte emparelhar a cognome com a monarquia…
O espaço mais nobre da primeira página ficava a cargo de outra transcrição, agora do jornal "O Mundo". Um artigo, o último da autoria do abade Paes Pinto, considerado pelo "Commercio da Louzã" um "espirito culto de revolucionario, a quem, de ha dezoito annos a esta parte tanto deveu o partido republicano".
O texto intitulava-se "Republica e Religião", e o jornal da Lousã, lembrando-se do que prometera no seu "Programma", tratava de desdramatizar a inclusão de tal prosa:
"Não o fazemos com o fim de servir esta ou aquella ideia, mas sim por vêrmos nas palavras do honrado sacerdote, que quaesquer que sejam as instituições liberaes, seja qual for o nome que se lhe dê, teem por dever acatar e fazer respeitar as crenças de cada um".
Na página dois, o texto da autoria de "V.", sob o título e o pretexto "As illusões d'um sonho", comportava gordo repositório dos ideais da Igualdade, Liberdade e Fraternidade.
O autor sonhava com a chegada do "grande Reformador", vindo para "resgatar a humanidade, que se debatia nas garras do Despotismo e da Tyrania"; nem acordou com o "enorme e ensurdecedor ruido" provocado pelas "ruinas d'um mundo velho, corrupto, fundado em alicerces de lodo que desabavam", e davam lugar a outro mundo, este feito "de Paz, de Amor, de Justiça e de Bondade", "inundando de uma Luz rutilante infinitamente mais intensa do que a do Astro Rei".
Repare-se na ironia subtil da chamada a final de frase, não do sol, mas do astro a quem coube em sorte emparelhar a cognome com a monarquia…
segunda-feira, 25 de maio de 2009
O convénio com o Transvaal
Nota 9 — O governo era agora presidido pelo regenerador dissidente Venceslau de Lima. Substituíra o progressita Sebastião Teles a 14 de Maio, e haveria de manter-se no cargo até 22 de Dezembro.
O convénio com o Transvaal perturbara bastante o periclitante ministério de Sebastião Teles. Damião Peres retrata assim a situação vivida entre Abril e Maio de 1909:
"Uma questão, levantada em volta dum convénio entre o Govêrno de Moçambique e o Transvaal àcêrca do fornecimento de mão de obra indígena para as minas do Rand, serviu para atribular a curta existência dêsse gabinete. O debate generalizou-se nas duas Câmaras com grande ruído. Na dos Pares, o Conde de Arnoso voltava a clamar por uma investigação rigorosa do regicídio.
À frente do Juízo de Instrução Criminal fôra colocado o magistrado de carreira, António Emílio de Almeida Azevedo, que intentava uma acção de certo vigor contra as sociedades secretas. Logo contra o Irmão Hoche (nome maçónico que o Juiz adoptara quando iniciado na Maçonaria) rompeu uma campanha acesa dos jornais de esquerda.
Não afrouxavam a propaganda nos quartéis nem as aliciações dos oficiais para a revolução republicana.
O govêrno Sebastião Teles, politicamente muito fraco, a-pesar de ter maioria de votos, não podia sustentar-se. Em vão apelou para a dissolução parlamentar. Teve, por isso, que demitir-se".
Peres, Damião. Obra citada, pág. 450 e 451.
O convénio com o Transvaal perturbara bastante o periclitante ministério de Sebastião Teles. Damião Peres retrata assim a situação vivida entre Abril e Maio de 1909:
"Uma questão, levantada em volta dum convénio entre o Govêrno de Moçambique e o Transvaal àcêrca do fornecimento de mão de obra indígena para as minas do Rand, serviu para atribular a curta existência dêsse gabinete. O debate generalizou-se nas duas Câmaras com grande ruído. Na dos Pares, o Conde de Arnoso voltava a clamar por uma investigação rigorosa do regicídio.
À frente do Juízo de Instrução Criminal fôra colocado o magistrado de carreira, António Emílio de Almeida Azevedo, que intentava uma acção de certo vigor contra as sociedades secretas. Logo contra o Irmão Hoche (nome maçónico que o Juiz adoptara quando iniciado na Maçonaria) rompeu uma campanha acesa dos jornais de esquerda.
Não afrouxavam a propaganda nos quartéis nem as aliciações dos oficiais para a revolução republicana.
O govêrno Sebastião Teles, politicamente muito fraco, a-pesar de ter maioria de votos, não podia sustentar-se. Em vão apelou para a dissolução parlamentar. Teve, por isso, que demitir-se".
Peres, Damião. Obra citada, pág. 450 e 451.
Temos de reagir, ainda que por processos violentos
No número onze, o jornal lousanense haveria de retomar o tema, voltando a dar-lhe dignidade de primeira página. F. Duarte insurgia-se contra o tratado, e não tinha pejo em advogar a violência, se fosse caso disso:
"Se não quizermos que este povo de tão gloriosas tradicções historicas, de tão grandes recursos ainda, se afunde na tutela estrangeira, vilipendiosa e miseravel, temos de reagir, ainda que por processos violentos, contra taes systemas de administração e governação publicas". (Nota 9)
"Se não quizermos que este povo de tão gloriosas tradicções historicas, de tão grandes recursos ainda, se afunde na tutela estrangeira, vilipendiosa e miseravel, temos de reagir, ainda que por processos violentos, contra taes systemas de administração e governação publicas". (Nota 9)
Salvar a honra da nação portugueza
Uma questão que agitara sobremaneira o parlamento, com o Partido Republicano a apelar ao esforço do povo, para assim se "salvar a honra da nação portugueza, victima da tyrania do regimem e do despotismo da monarchia nova".
O jornal lousanense a assumir-se, cada vez mais, como um jornal desafecto ao regime, na linha do que já sucedia com outros importantes órgãos da imprensa, a nível nacional. Atente-se, a propósito, numa passagem do artigo de João de Menezes:
"A resolução do congresso mereceu o aplauso incondicional dos jornaes que representam oficialmente o bloco regenerador-dissidente, e esse aplauso foi até ao ponto de se declarar que, á campanha republicana, prestariam os dois partidos monarchicos o seu concurso. No entender d'esses jornaes, o terreno extra-parlamentar, tratando-se d'uma questão de soberania nacional — perante a qual não podia haver distincção de partidos — era mesmo mais proprio do que o terreno parlamentar, para se discutir o gravissimo assumpto".
O jornal lousanense a assumir-se, cada vez mais, como um jornal desafecto ao regime, na linha do que já sucedia com outros importantes órgãos da imprensa, a nível nacional. Atente-se, a propósito, numa passagem do artigo de João de Menezes:
"A resolução do congresso mereceu o aplauso incondicional dos jornaes que representam oficialmente o bloco regenerador-dissidente, e esse aplauso foi até ao ponto de se declarar que, á campanha republicana, prestariam os dois partidos monarchicos o seu concurso. No entender d'esses jornaes, o terreno extra-parlamentar, tratando-se d'uma questão de soberania nacional — perante a qual não podia haver distincção de partidos — era mesmo mais proprio do que o terreno parlamentar, para se discutir o gravissimo assumpto".
João de Meneses e a "questão religiosa"
Nota 8 — João de Meneses, deputado republicano, esteve na origem de outra polémica, a "questão religiosa" que haveria de atrapalhar bastante o governo de Venceslau Lima.
"Na Câmara dos Deputados servira de pretexto à batalha um artigo duma proposta de lei de casas baratas, que se supunha conter, numa faculdade ampla de edificação concedida a associações e corporações perpétuas, o meio legal de as congregações religiosas possuírem bens imóveis. O artigo foi, afinal, aprovado; mas a rua tomou conta da questão".
Peres, Damião. Obra citada, pág. 451.
"Na Câmara dos Deputados servira de pretexto à batalha um artigo duma proposta de lei de casas baratas, que se supunha conter, numa faculdade ampla de edificação concedida a associações e corporações perpétuas, o meio legal de as congregações religiosas possuírem bens imóveis. O artigo foi, afinal, aprovado; mas a rua tomou conta da questão".
Peres, Damião. Obra citada, pág. 451.
O Congresso do Partido Republicano Português
Nota 7 — O Congresso do Partido Republicano Português realizara-se em Setúbal a 24 e 25 de Abril. O respigo de "A Lucta" aparecia no "Commercio" a 25 de Maio, exactamente um mês depois do plenário setubalense. F. M. Vitorino resume assim as principais conclusões do Congresso:
"O crescimento da facção que defendia a acção revolucionária era tal, que do congresso saiu um novo Directório a quem foi confiado o mandato imperativo de fazer a revolução. Eram seus membros efectivos Teófilo Braga, Basílio Teles, José Relvas, Eusébio Leão e Cupertino Ribeiro (…) Ao Directório foi cometida a tarefa de nomear um comité revolucionário, do qual faziam parte João Chagas, Afonso Costa, António José de Almeida e Cândido dos Reis".
Vitorino, Francisco Manuel. Obra citada, pág. 258 ss.
"O crescimento da facção que defendia a acção revolucionária era tal, que do congresso saiu um novo Directório a quem foi confiado o mandato imperativo de fazer a revolução. Eram seus membros efectivos Teófilo Braga, Basílio Teles, José Relvas, Eusébio Leão e Cupertino Ribeiro (…) Ao Directório foi cometida a tarefa de nomear um comité revolucionário, do qual faziam parte João Chagas, Afonso Costa, António José de Almeida e Cândido dos Reis".
Vitorino, Francisco Manuel. Obra citada, pág. 258 ss.
25 de Maio de 1909
Na edição seguinte (n.º 8, 25.05.1909), a primeira página era quase totalmente preenchida por uma transcrição de um artigo publicado no jornal "A Lucta", que o "Commercio da Louzã" assumia como seu editorial (Nota 6). Artigo "firmado pelo brilhante jornalista e distincto deputado da nação sr. dr. João de Menezes", reportava-se à decisão do congresso republicano que reunira em Setúbal, de "efectuar em todo o paiz um grande movimento nacional para que a convenção luso-transvaaliana seja declarada sem valor algum". (Notas 7 e 8).
Uma questão que agitara sobremaneira o parlamento, com o Partido Republicano a apelar ao esforço do povo, para assim se "salvar a honra da nação portugueza, victima da tyrania do regimem e do despotismo da monarchia nova".
Nota 6 — O jornal "A Lucta" iniciara a sua actividade a 1 de Maio de 1907, sendo dirigido por Brito Camacho.
Uma questão que agitara sobremaneira o parlamento, com o Partido Republicano a apelar ao esforço do povo, para assim se "salvar a honra da nação portugueza, victima da tyrania do regimem e do despotismo da monarchia nova".
Nota 6 — O jornal "A Lucta" iniciara a sua actividade a 1 de Maio de 1907, sendo dirigido por Brito Camacho.
segunda-feira, 18 de maio de 2009
18 de Maio de 1909
O jornal já havia defendido a necessidade do "capricho humano mudar para outro caminho", já temera um "desenlace fatal de uma desastrosa catastrofe". A 18 de Maio de 1909, sob o título "Que virá?…", F.Duarte preenchia as reticências com o que arriscava ser a vontade do povo sofrido de então:
"No seu animo, começa a predominar com afincada insistencia a ideia de fazer estalar e ruir um systema de instituições que, deformadas e sophismadas, o acorrentam a uma vida de sofrimentos, miseria e sobressaltos".
"No seu animo, começa a predominar com afincada insistencia a ideia de fazer estalar e ruir um systema de instituições que, deformadas e sophismadas, o acorrentam a uma vida de sofrimentos, miseria e sobressaltos".
segunda-feira, 4 de maio de 2009
4 de Maio de 1909 - Congresso republicano responsável pelo tremor de terra!
"João Ninguém" encarregava-se, na edição cinco, dos primeiros afloramentos ao movimento republicano. Então não é que havia quem atribuísse à realização de um congresso republicano em Setúbal a responsabilidade pelo tremor de terra que sacudira Portugal a 23 de Abril?!
No mesmo número, partido tomado a favor dos pobres, contra a carestia do pão:
"Mais um pouco de amor pelos pobresinhos, senhores padeiros, que elles nem sempre teem os estomagos dispostos a ingerir pão de milho!"
Ainda nesta edição, o elogio ao pároco chamado a pregar o sermão à chegada de Nossa Senhora da Piedade. Um elogio que mostrava já, de forma clara, para que lado pendiam as simpatias do jornal lousanense:
"O sr. padre José Amaro, com o seu discurso fluente e correcto, historico-socialista, conseguiu, em parte, agradar immenso ao selecto auditorio. Os nossos parabens".
No mesmo número, partido tomado a favor dos pobres, contra a carestia do pão:
"Mais um pouco de amor pelos pobresinhos, senhores padeiros, que elles nem sempre teem os estomagos dispostos a ingerir pão de milho!"
Ainda nesta edição, o elogio ao pároco chamado a pregar o sermão à chegada de Nossa Senhora da Piedade. Um elogio que mostrava já, de forma clara, para que lado pendiam as simpatias do jornal lousanense:
"O sr. padre José Amaro, com o seu discurso fluente e correcto, historico-socialista, conseguiu, em parte, agradar immenso ao selecto auditorio. Os nossos parabens".
sábado, 25 de abril de 2009
Ênfase ao municipalismo, também aos problemas da "instrucção"
Ênfase ao municipalismo, também aos problemas da "instrucção". A preocupação neste âmbito será uma das pedras de toque do jornal dirigido por António Cruz Alves dos Santos. As páginas do periódico lousanense albergarão, por várias edições, desenvolvidas notas da cobertura do "Congresso Pedagógico" realizado em Lisboa no mês de Abril*.
*O primeiro Congresso Pedagógico de Instrução Primária e Popular realizara-se em Abril de 1908. Outras edições se repetiriam em 1912 e 1914.
*O primeiro Congresso Pedagógico de Instrução Primária e Popular realizara-se em Abril de 1908. Outras edições se repetiriam em 1912 e 1914.
A dissolução da Câmara Municipal de Lisboa
Nota 4 — Recorde-se que as Câmaras Municipais haviam sofrido rude golpe aquando do segundo governo de "ditadura" de João Franco. A 6 de Junho de 1907, este ordenara a dissolução da Câmara Municipal de Lisboa:
"Pretendia João Franco uma melhor articulação entre a administração local e o poder central, relativamente às verbas concedidas à primeira Câmara do país. Semelhante medida será tomada relativamente a outras instituições (Juntas Gerais, Comissões Distritais, Câmaras Municipais e Juntas de Paróquia), substituindo-as por Comissões Administrativas".
Entre 1900 e 1906, num total de sete anos e nove meses, as Câmaras mantiveram-se encerradas durante seis anos e três meses.
Vitorino, Francisco Manuel. "História de Portugal em Datas", vários autores, Círculo de Leitores, 1994, pág.250 e 256.
"Pretendia João Franco uma melhor articulação entre a administração local e o poder central, relativamente às verbas concedidas à primeira Câmara do país. Semelhante medida será tomada relativamente a outras instituições (Juntas Gerais, Comissões Distritais, Câmaras Municipais e Juntas de Paróquia), substituindo-as por Comissões Administrativas".
Entre 1900 e 1906, num total de sete anos e nove meses, as Câmaras mantiveram-se encerradas durante seis anos e três meses.
Vitorino, Francisco Manuel. "História de Portugal em Datas", vários autores, Círculo de Leitores, 1994, pág.250 e 256.
25 de Abril de 1909
A propósito do congresso municipalista que se realizara em Lisboa, o número quatro do "Commercio da Louzã" tomava partido: — a favor do município, contra o poder centralizador sediado na capital:
"Monarquicos e republicanos, conservadores e liberais, nenhum deixou de reclamar a maxima autonomia nas relações do municipio com o poder central e de reivindicar para a velha instituição, que tem sido o principal elemento da nossa independencia, o logar de honra a que tem direito e só um regimem excessivamente centralizador lhe tem acintosamente negado".
Logo a seguir…
"É consolador ver assim a alma portuguêsa ter uma aspiração generosa, como é essa do rejuvenescimento da Patria pela rehabilitação do municipio". (Nota 4)
"Monarquicos e republicanos, conservadores e liberais, nenhum deixou de reclamar a maxima autonomia nas relações do municipio com o poder central e de reivindicar para a velha instituição, que tem sido o principal elemento da nossa independencia, o logar de honra a que tem direito e só um regimem excessivamente centralizador lhe tem acintosamente negado".
Logo a seguir…
"É consolador ver assim a alma portuguêsa ter uma aspiração generosa, como é essa do rejuvenescimento da Patria pela rehabilitação do municipio". (Nota 4)
25 de Abril de 1909
A propósito do congresso municipalista que se realizara em Lisboa, o número quatro do "Commercio da Louzã" tomava partido: — a favor do município, contra o poder centralizador sediado na capital:
"Monarquicos e republicanos, conservadores e liberais, nenhum deixou de reclamar a maxima autonomia nas relações do municipio com o poder central e de reivindicar para a velha instituição, que tem sido o principal elemento da nossa independencia, o logar de honra a que tem direito e só um regimem excessivamente centralizador lhe tem acintosamente negado".
Logo a seguir…
"É consolador ver assim a alma portuguêsa ter uma aspiração generosa, como é essa do rejuvenescimento da Patria pela rehabilitação do municipio". (Nota 4)
"Monarquicos e republicanos, conservadores e liberais, nenhum deixou de reclamar a maxima autonomia nas relações do municipio com o poder central e de reivindicar para a velha instituição, que tem sido o principal elemento da nossa independencia, o logar de honra a que tem direito e só um regimem excessivamente centralizador lhe tem acintosamente negado".
Logo a seguir…
"É consolador ver assim a alma portuguêsa ter uma aspiração generosa, como é essa do rejuvenescimento da Patria pela rehabilitação do municipio". (Nota 4)
sábado, 18 de abril de 2009
O ministério da presidência do regenerador Campos Henriques
Nota 3 — O ano de 1909 entrara com ministério da presidência do regenerador Campos Henriques, que tomara posse a 25 de Dezembro de 1908.
Segundo Damião Peres, o novo governo foi recebido como de reacção ao avanço da onda republicana, como um ministério de defesa monárquica.
A 2 de Fevereiro realizara-se a assembleia do partido regenerador, tendo faltado ao plenário alguns dos seus mais reputados "marechais".
A 10 de Fevereiro teve lugar, em Vila Viçosa, um encontro entre os reis de Portugal e de Espanha. Este encontro — e continuaremos a seguir Damião Peres —, levantou grande celeuma nos arraiais republicanos, alentando certas esperanças nalguns sectores monárquicos.
"A nova sessão legislativa anunciou-se, logo de entrada, tumultuosa. Uma proposta de lei do ministro Espregueira, para um empréstimo de quatro mil contos foi combatida com a maior violência.
As oposições tentaram conseguir a constituição duma comissão parlamentar de inquérito. A maioria recusou-a. Rebentou o tumulto. Um deputado munido duma pá de bater bifes, foi despedaçando várias acrteiras, enquanto os outros repetiam em grita: — Inquérito! Inquérito!".
Campos Henriques demite-se, sendo substituído por Sebastião Teles, em ministério de duração fugaz, cumprindo apenas 27 dias de governação.
Peres, Damião. "História de Portugal", volume VII, Portucalense Editora, Barcelos, 1935, pág. 449 e 450.
Segundo Damião Peres, o novo governo foi recebido como de reacção ao avanço da onda republicana, como um ministério de defesa monárquica.
A 2 de Fevereiro realizara-se a assembleia do partido regenerador, tendo faltado ao plenário alguns dos seus mais reputados "marechais".
A 10 de Fevereiro teve lugar, em Vila Viçosa, um encontro entre os reis de Portugal e de Espanha. Este encontro — e continuaremos a seguir Damião Peres —, levantou grande celeuma nos arraiais republicanos, alentando certas esperanças nalguns sectores monárquicos.
"A nova sessão legislativa anunciou-se, logo de entrada, tumultuosa. Uma proposta de lei do ministro Espregueira, para um empréstimo de quatro mil contos foi combatida com a maior violência.
As oposições tentaram conseguir a constituição duma comissão parlamentar de inquérito. A maioria recusou-a. Rebentou o tumulto. Um deputado munido duma pá de bater bifes, foi despedaçando várias acrteiras, enquanto os outros repetiam em grita: — Inquérito! Inquérito!".
Campos Henriques demite-se, sendo substituído por Sebastião Teles, em ministério de duração fugaz, cumprindo apenas 27 dias de governação.
Peres, Damião. "História de Portugal", volume VII, Portucalense Editora, Barcelos, 1935, pág. 449 e 450.
18 de Abril de 1909
Os factos, porém, pareciam não ter ouvidos para as preces purificadoras do nóvel jornal lousanense.
No seu número terceiro, o editorial voltava a zurzir na "política", desta feita a propósito da crise ministerial então vivida (Nota 3), da constituição de um novo governo e de um parlamento considerado improdutivo:
"Vai em dois meses que se abriu a actual sessão parlamentar, a segunda da legislatura que decorre, e ainda dos seus trabalhos não resultou coisa que se visse e que aproveitasse às forças produtivas da actividade nacional.
Politica e só politica, e eis do que se tem tratado, e mais nada!"
A continuar o rame-rame da política estéril, nada mais havia a vaticinar que um "desenlace fatal de uma desastrosa catastrofe".
No seu número terceiro, o editorial voltava a zurzir na "política", desta feita a propósito da crise ministerial então vivida (Nota 3), da constituição de um novo governo e de um parlamento considerado improdutivo:
"Vai em dois meses que se abriu a actual sessão parlamentar, a segunda da legislatura que decorre, e ainda dos seus trabalhos não resultou coisa que se visse e que aproveitasse às forças produtivas da actividade nacional.
Politica e só politica, e eis do que se tem tratado, e mais nada!"
A continuar o rame-rame da política estéril, nada mais havia a vaticinar que um "desenlace fatal de uma desastrosa catastrofe".
sábado, 11 de abril de 2009
Sebastião Teles sucede a Campos Henriques na presidência do ministério
Nota 2 — A 11 de Abril, dia em que o segundo número do jornal lousanense se publicava, Sebastião Teles sucedia a Campos Henriques na presidência do ministério. Henriques não aguentara quatro meses o cargo (tomara posse no dia de Natal de 1908), e Teles teria mandato bastante mais curto: seria substituído a 14 de Maio, ainda o número sete do "Commercio da Louzã" não chegara às bancas…
11 de Abril de 1909 - Contra a má política dos maus políticos
No segundo número, explicitava-se melhor o sentido desta esconjuração: não se tratava afinal de renegar a actividade política em si, antes a má política dos maus políticos:
"Em Portugal a politica deixou de ser o conjunto de principios reguladores da vida da nação, para se transformar num simples processo de satisfazer vaidades, crear odios e inutilisar aptidões.
Ser politico, entre nós, não é ser cidadão: é ser o influente eleitoral que procura arranjar o maior número de votos para conseguir as boas graças do chefe, é abastardar a intelligencia, é escravizar a vontade, é muitas vezes afundar o caracter" —lia-se no editorial intitulado "A Crise Nacional", um repositório cáustico das causas que levavam os portugueses a sentir repugnância pela política:
"Hoje em dia nota-se uma repugnancia extraordinaria pela politica, tratando cada um de nós de fugir d'ella como quem foge de um tenebroso abysmo" — sinalizava-se, fazendo-se de seguida o contraponto:
"Será que a politica não traga a quem nella se intromete mais que desgostos, desillusões e prejuizos de dinheiro?
Não é.
Ser politico é ser cidadão: cidadão consciente que trabalha com alma, de boa fé, pelo engrandecimento material e moral do país a que pertence, que intervém em todos os actos da vida nacional, onde é chamada a sua intervenção, com o tributo desinteressado da sua opinião ou do seu voto".
O editorial fechava apontando sintomaticamente a necessidade do "capricho humano mudar para outro caminho". (Nota 2)
"Em Portugal a politica deixou de ser o conjunto de principios reguladores da vida da nação, para se transformar num simples processo de satisfazer vaidades, crear odios e inutilisar aptidões.
Ser politico, entre nós, não é ser cidadão: é ser o influente eleitoral que procura arranjar o maior número de votos para conseguir as boas graças do chefe, é abastardar a intelligencia, é escravizar a vontade, é muitas vezes afundar o caracter" —lia-se no editorial intitulado "A Crise Nacional", um repositório cáustico das causas que levavam os portugueses a sentir repugnância pela política:
"Hoje em dia nota-se uma repugnancia extraordinaria pela politica, tratando cada um de nós de fugir d'ella como quem foge de um tenebroso abysmo" — sinalizava-se, fazendo-se de seguida o contraponto:
"Será que a politica não traga a quem nella se intromete mais que desgostos, desillusões e prejuizos de dinheiro?
Não é.
Ser politico é ser cidadão: cidadão consciente que trabalha com alma, de boa fé, pelo engrandecimento material e moral do país a que pertence, que intervém em todos os actos da vida nacional, onde é chamada a sua intervenção, com o tributo desinteressado da sua opinião ou do seu voto".
O editorial fechava apontando sintomaticamente a necessidade do "capricho humano mudar para outro caminho". (Nota 2)
sábado, 4 de abril de 2009
4 de Abril de 1909 (3) - Um jornal sem política, segundo João Ninguém
Um jornal sem política, assim prescrevia outro colaborador de Coimbra, no caso um que assinava "João Ninguém":
"Duas coisas me moveram a acceitar o vosso amavel convite de collaboração: a minha amizade por vós (…) e eu saber que o vosso jornal não tinha política, senhora com quem não tenho relações, mas que me parece pessoa detestavel, pelos males que lhe tenho visto causar e pelas patifarias e injustiças que lhe tenho visto praticar.
E então numa terra pequena?!
Ella mette-se em casa dos grandes, d'olho manhoso e sorriso matreiro, ouve o que os patrões dizem e vai contal-o aos criados; vai até á cosinha cheirar as panellas e provar os guizados, ouve os criados dizer mal dos patrões, ajuda-os nisso se fôr preciso e vai para a sala dizer tudo quanto ouviu, se é que não accrescenta alguma coisa da sua lavra (…)".
Um cartão de apresentação que renegava a "política", esta com costas largas para acoitar todos os males, quase todas as perfídias acima da terra praticadas.
"Duas coisas me moveram a acceitar o vosso amavel convite de collaboração: a minha amizade por vós (…) e eu saber que o vosso jornal não tinha política, senhora com quem não tenho relações, mas que me parece pessoa detestavel, pelos males que lhe tenho visto causar e pelas patifarias e injustiças que lhe tenho visto praticar.
E então numa terra pequena?!
Ella mette-se em casa dos grandes, d'olho manhoso e sorriso matreiro, ouve o que os patrões dizem e vai contal-o aos criados; vai até á cosinha cheirar as panellas e provar os guizados, ouve os criados dizer mal dos patrões, ajuda-os nisso se fôr preciso e vai para a sala dizer tudo quanto ouviu, se é que não accrescenta alguma coisa da sua lavra (…)".
Um cartão de apresentação que renegava a "política", esta com costas largas para acoitar todos os males, quase todas as perfídias acima da terra praticadas.
4 de Abril de 1909 (2) - Apartidário, mas reivindicativo
Apartidário, mas reivindicativo, como augurava na sua primeira crónica o colaborador de Coimbra, que assinava "José":
"(…) Limito-me a cumprimentar-vos pela ideia que tivesteis de fundar nessa pittoresca villa um jornal que seja como que o seu defensor, o porta-voz das suas reclamações, a campainha de alarme para vibrar sonora e bem alto quando sejam olvidados os seus sagrados interesses pela alta politica que ande embrenhada nalguma escura negociata, ou, quando acima d'elles sejam collocadas as conveniencias d'algum eleiçoeiro ou cacique local".
"(…) Limito-me a cumprimentar-vos pela ideia que tivesteis de fundar nessa pittoresca villa um jornal que seja como que o seu defensor, o porta-voz das suas reclamações, a campainha de alarme para vibrar sonora e bem alto quando sejam olvidados os seus sagrados interesses pela alta politica que ande embrenhada nalguma escura negociata, ou, quando acima d'elles sejam collocadas as conveniencias d'algum eleiçoeiro ou cacique local".
4 de Abril de 1909 (2) - Apartidário, mas reivindicativo
Apartidário, mas reivindicativo, como augurava na sua primeira crónica o colaborador de Coimbra, que assinava "José":
"(…) Limito-me a cumprimentar-vos pela ideia que tivesteis de fundar nessa pittoresca villa um jornal que seja como que o seu defensor, o porta-voz das suas reclamações, a campainha de alarme para vibrar sonora e bem alto quando sejam olvidados os seus sagrados interesses pela alta politica que ande embrenhada nalguma escura negociata, ou, quando acima d'elles sejam collocadas as conveniencias d'algum eleiçoeiro ou cacique local".
"(…) Limito-me a cumprimentar-vos pela ideia que tivesteis de fundar nessa pittoresca villa um jornal que seja como que o seu defensor, o porta-voz das suas reclamações, a campainha de alarme para vibrar sonora e bem alto quando sejam olvidados os seus sagrados interesses pela alta politica que ande embrenhada nalguma escura negociata, ou, quando acima d'elles sejam collocadas as conveniencias d'algum eleiçoeiro ou cacique local".
Recusa de alinhamento partidário
NOTA 1 — A recusa de alinhamento partidário era comum nos programas de alguns jornais, já desde os finais da primeira metade do século XIX. Esta manifestação de independência em relação aos partidos era contrabalançada por outros casos, em que tal alinhamento se afirmava, logo nos primeiros números.
No primeiro caso — no qual encontramos semelhanças com o programa do jornal lousanense —, encontramos "O Azourrague", que iniciou a sua publicação em 1838. Na sua "Profissão de Fé", declara que "não tem cor política e não pertence a partidos, vibrando estocadas à direita e à esquerda apenas com o fito no bem do Povo".
Exemplo de alinhamento partidário logo à nascença, encontramo-lo em "O Republicano". No seu número 3, dizia:
"Proclamamos a liberdade, igualdade e fraternidade.
Queremos república, porque só ela nos pode salvar.
Queremos um governo de homens inteligentes e honrados.
Queremos recompensas para todos os que bem mereceram da pátria.
Queremos asilo para todos os pobres.
Queremos pão para todos os que têm fome.
Queremos dar instrução a todos os que a desejam.
Queremos que o trabalho seja recompensado.
Queremos, em suma, que não haja só uma classe que seja rica e feliz, enquanto todas as outras vivem na miséria".
José Tengarrinha nota aqui a tendência socializante que, como geralmente aconteceu, acompanhava o incipiente republicanismo na expressão das suas reivindicações sociais.
Mesmo sem nunca se ter declarado republicano, o tónus de grande parte dos artigos de cariz político insertos no "Commercio da Louzã" vão revelar esta tendência socializante, às vésperas da proclamação da República, tempo em que o ideal republicano já deveria estar, mas não estava, claramente definido.
À classificação de "republicanos", Tengarrinha prefere, para os casos dos jornais que se não afirmaram alinhados como tal, posicioná-los como "de extrema esquerda liberal". Tengarrinha, José. "História da Imprensa Periódica Portuguesa", Editorial Caminho, 1989, pág. 234 ss.
No primeiro caso — no qual encontramos semelhanças com o programa do jornal lousanense —, encontramos "O Azourrague", que iniciou a sua publicação em 1838. Na sua "Profissão de Fé", declara que "não tem cor política e não pertence a partidos, vibrando estocadas à direita e à esquerda apenas com o fito no bem do Povo".
Exemplo de alinhamento partidário logo à nascença, encontramo-lo em "O Republicano". No seu número 3, dizia:
"Proclamamos a liberdade, igualdade e fraternidade.
Queremos república, porque só ela nos pode salvar.
Queremos um governo de homens inteligentes e honrados.
Queremos recompensas para todos os que bem mereceram da pátria.
Queremos asilo para todos os pobres.
Queremos pão para todos os que têm fome.
Queremos dar instrução a todos os que a desejam.
Queremos que o trabalho seja recompensado.
Queremos, em suma, que não haja só uma classe que seja rica e feliz, enquanto todas as outras vivem na miséria".
José Tengarrinha nota aqui a tendência socializante que, como geralmente aconteceu, acompanhava o incipiente republicanismo na expressão das suas reivindicações sociais.
Mesmo sem nunca se ter declarado republicano, o tónus de grande parte dos artigos de cariz político insertos no "Commercio da Louzã" vão revelar esta tendência socializante, às vésperas da proclamação da República, tempo em que o ideal republicano já deveria estar, mas não estava, claramente definido.
À classificação de "republicanos", Tengarrinha prefere, para os casos dos jornais que se não afirmaram alinhados como tal, posicioná-los como "de extrema esquerda liberal". Tengarrinha, José. "História da Imprensa Periódica Portuguesa", Editorial Caminho, 1989, pág. 234 ss.
4 de Abril de 1909 (1) - O "programma" do jornal
No seu número inaugural, de 4 de Abril de 1909, o "Commercio da Louzã", depois de longos considerandos sobre a necessidade e os riscos de incumprimento de um "Programma", não resistia a avançar com o seu:
"Lançamos hoje aos mares da critica o Commercio da Louzã, e a critica, não resistindo à praxe, pede-nos certamente Programma: — definição de — ao que vimos:
— A dar o nosso esforço, tanto quanto possamos à defeza dos direitos e dos interesses d'este concelho e da sua população, e no firme proposito de seguirmos, d'olhos vendados, como o symbolo da justiça, sem querermos vêr nem conhecer partidos ou partidarios". (Nota 1)
Mas logo neste primeiro número se percebia uma determinada postura ideológica, denotada no ênfase posto à "instrução popular", que perpassava das notícias referentes às comemorações da "Festa da Árvore" em vários pontos do concelho.
"Lançamos hoje aos mares da critica o Commercio da Louzã, e a critica, não resistindo à praxe, pede-nos certamente Programma: — definição de — ao que vimos:
— A dar o nosso esforço, tanto quanto possamos à defeza dos direitos e dos interesses d'este concelho e da sua população, e no firme proposito de seguirmos, d'olhos vendados, como o symbolo da justiça, sem querermos vêr nem conhecer partidos ou partidarios". (Nota 1)
Mas logo neste primeiro número se percebia uma determinada postura ideológica, denotada no ênfase posto à "instrução popular", que perpassava das notícias referentes às comemorações da "Festa da Árvore" em vários pontos do concelho.
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