sábado, 25 de abril de 2009

Ênfase ao municipalismo, também aos problemas da "instrucção"

Ênfase ao municipalismo, também aos problemas da "instrucção". A preocupação neste âmbito será uma das pedras de toque do jornal dirigido por António Cruz Alves dos Santos. As páginas do periódico lousanense albergarão, por várias edições, desenvolvidas notas da cobertura do "Congresso Pedagógico" realizado em Lisboa no mês de Abril*.

*O primeiro Congresso Pedagógico de Instrução Primária e Popular realizara-se em Abril de 1908. Outras edições se repetiriam em 1912 e 1914.

A dissolução da Câmara Municipal de Lisboa

Nota 4 — Recorde-se que as Câmaras Municipais haviam sofrido rude golpe aquando do segundo governo de "ditadura" de João Franco. A 6 de Junho de 1907, este ordenara a dissolução da Câmara Municipal de Lisboa:
"Pretendia João Franco uma melhor articulação entre a administração local e o poder central, relativamente às verbas concedidas à primeira Câmara do país. Semelhante medida será tomada relativamente a outras instituições (Juntas Gerais, Comissões Distritais, Câmaras Municipais e Juntas de Paróquia), substituindo-as por Comissões Administrativas".
Entre 1900 e 1906, num total de sete anos e nove meses, as Câmaras mantiveram-se encerradas durante seis anos e três meses.
Vitorino, Francisco Manuel. "História de Portugal em Datas", vários autores, Círculo de Leitores, 1994, pág.250 e 256.

25 de Abril de 1909

A propósito do congresso municipalista que se realizara em Lisboa, o número quatro do "Commercio da Louzã" tomava partido: — a favor do município, contra o poder centralizador sediado na capital:
"Monarquicos e republicanos, conservadores e liberais, nenhum deixou de reclamar a maxima autonomia nas relações do municipio com o poder central e de reivindicar para a velha instituição, que tem sido o principal elemento da nossa independencia, o logar de honra a que tem direito e só um regimem excessivamente centralizador lhe tem acintosamente negado".
Logo a seguir…
"É consolador ver assim a alma portuguêsa ter uma aspiração generosa, como é essa do rejuvenescimento da Patria pela rehabilitação do municipio". (Nota 4)

25 de Abril de 1909

A propósito do congresso municipalista que se realizara em Lisboa, o número quatro do "Commercio da Louzã" tomava partido: — a favor do município, contra o poder centralizador sediado na capital:
"Monarquicos e republicanos, conservadores e liberais, nenhum deixou de reclamar a maxima autonomia nas relações do municipio com o poder central e de reivindicar para a velha instituição, que tem sido o principal elemento da nossa independencia, o logar de honra a que tem direito e só um regimem excessivamente centralizador lhe tem acintosamente negado".
Logo a seguir…
"É consolador ver assim a alma portuguêsa ter uma aspiração generosa, como é essa do rejuvenescimento da Patria pela rehabilitação do municipio". (Nota 4)

sábado, 18 de abril de 2009

O ministério da presidência do regenerador Campos Henriques

Nota 3 — O ano de 1909 entrara com ministério da presidência do regenerador Campos Henriques, que tomara posse a 25 de Dezembro de 1908.
Segundo Damião Peres, o novo governo foi recebido como de reacção ao avanço da onda republicana, como um ministério de defesa monárquica.
A 2 de Fevereiro realizara-se a assembleia do partido regenerador, tendo faltado ao plenário alguns dos seus mais reputados "marechais".
A 10 de Fevereiro teve lugar, em Vila Viçosa, um encontro entre os reis de Portugal e de Espanha. Este encontro — e continuaremos a seguir Damião Peres —, levantou grande celeuma nos arraiais republicanos, alentando certas esperanças nalguns sectores monárquicos.
"A nova sessão legislativa anunciou-se, logo de entrada, tumultuosa. Uma proposta de lei do ministro Espregueira, para um empréstimo de quatro mil contos foi combatida com a maior violência.
As oposições tentaram conseguir a constituição duma comissão parlamentar de inquérito. A maioria recusou-a. Rebentou o tumulto. Um deputado munido duma pá de bater bifes, foi despedaçando várias acrteiras, enquanto os outros repetiam em grita: — Inquérito! Inquérito!".
Campos Henriques demite-se, sendo substituído por Sebastião Teles, em ministério de duração fugaz, cumprindo apenas 27 dias de governação.
Peres, Damião. "História de Portugal", volume VII, Portucalense Editora, Barcelos, 1935, pág. 449 e 450.

18 de Abril de 1909

Os factos, porém, pareciam não ter ouvidos para as preces purificadoras do nóvel jornal lousanense.
No seu número terceiro, o editorial voltava a zurzir na "política", desta feita a propósito da crise ministerial então vivida (Nota 3), da constituição de um novo governo e de um parlamento considerado improdutivo:
"Vai em dois meses que se abriu a actual sessão parlamentar, a segunda da legislatura que decorre, e ainda dos seus trabalhos não resultou coisa que se visse e que aproveitasse às forças produtivas da actividade nacional.
Politica e só politica, e eis do que se tem tratado, e mais nada!"
A continuar o rame-rame da política estéril, nada mais havia a vaticinar que um "desenlace fatal de uma desastrosa catastrofe".

sábado, 11 de abril de 2009

Sebastião Teles sucede a Campos Henriques na presidência do ministério

Nota 2 — A 11 de Abril, dia em que o segundo número do jornal lousanense se publicava, Sebastião Teles sucedia a Campos Henriques na presidência do ministério. Henriques não aguentara quatro meses o cargo (tomara posse no dia de Natal de 1908), e Teles teria mandato bastante mais curto: seria substituído a 14 de Maio, ainda o número sete do "Commercio da Louzã" não chegara às bancas…

11 de Abril de 1909 - Contra a má política dos maus políticos

No segundo número, explicitava-se melhor o sentido desta esconjuração: não se tratava afinal de renegar a actividade política em si, antes a má política dos maus políticos:
"Em Portugal a politica deixou de ser o conjunto de principios reguladores da vida da nação, para se transformar num simples processo de satisfazer vaidades, crear odios e inutilisar aptidões.
Ser politico, entre nós, não é ser cidadão: é ser o influente eleitoral que procura arranjar o maior número de votos para conseguir as boas graças do chefe, é abastardar a intelligencia, é escravizar a vontade, é muitas vezes afundar o caracter" —lia-se no editorial intitulado "A Crise Nacional", um repositório cáustico das causas que levavam os portugueses a sentir repugnância pela política:
"Hoje em dia nota-se uma repugnancia extraordinaria pela politica, tratando cada um de nós de fugir d'ella como quem foge de um tenebroso abysmo" — sinalizava-se, fazendo-se de seguida o contraponto:
"Será que a politica não traga a quem nella se intromete mais que desgostos, desillusões e prejuizos de dinheiro?
Não é.
Ser politico é ser cidadão: cidadão consciente que trabalha com alma, de boa fé, pelo engrandecimento material e moral do país a que pertence, que intervém em todos os actos da vida nacional, onde é chamada a sua intervenção, com o tributo desinteressado da sua opinião ou do seu voto".
O editorial fechava apontando sintomaticamente a necessidade do "capricho humano mudar para outro caminho". (Nota 2)

sábado, 4 de abril de 2009

4 de Abril de 1909 (3) - Um jornal sem política, segundo João Ninguém

Um jornal sem política, assim prescrevia outro colaborador de Coimbra, no caso um que assinava "João Ninguém":
"Duas coisas me moveram a acceitar o vosso amavel convite de collaboração: a minha amizade por vós (…) e eu saber que o vosso jornal não tinha política, senhora com quem não tenho relações, mas que me parece pessoa detestavel, pelos males que lhe tenho visto causar e pelas patifarias e injustiças que lhe tenho visto praticar.
E então numa terra pequena?!
Ella mette-se em casa dos grandes, d'olho manhoso e sorriso matreiro, ouve o que os patrões dizem e vai contal-o aos criados; vai até á cosinha cheirar as panellas e provar os guizados, ouve os criados dizer mal dos patrões, ajuda-os nisso se fôr preciso e vai para a sala dizer tudo quanto ouviu, se é que não accrescenta alguma coisa da sua lavra (…)".
Um cartão de apresentação que renegava a "política", esta com costas largas para acoitar todos os males, quase todas as perfídias acima da terra praticadas.

4 de Abril de 1909 (2) - Apartidário, mas reivindicativo

Apartidário, mas reivindicativo, como augurava na sua primeira crónica o colaborador de Coimbra, que assinava "José":
"(…) Limito-me a cumprimentar-vos pela ideia que tivesteis de fundar nessa pittoresca villa um jornal que seja como que o seu defensor, o porta-voz das suas reclamações, a campainha de alarme para vibrar sonora e bem alto quando sejam olvidados os seus sagrados interesses pela alta politica que ande embrenhada nalguma escura negociata, ou, quando acima d'elles sejam collocadas as conveniencias d'algum eleiçoeiro ou cacique local".

4 de Abril de 1909 (2) - Apartidário, mas reivindicativo

Apartidário, mas reivindicativo, como augurava na sua primeira crónica o colaborador de Coimbra, que assinava "José":
"(…) Limito-me a cumprimentar-vos pela ideia que tivesteis de fundar nessa pittoresca villa um jornal que seja como que o seu defensor, o porta-voz das suas reclamações, a campainha de alarme para vibrar sonora e bem alto quando sejam olvidados os seus sagrados interesses pela alta politica que ande embrenhada nalguma escura negociata, ou, quando acima d'elles sejam collocadas as conveniencias d'algum eleiçoeiro ou cacique local".

Recusa de alinhamento partidário

NOTA 1 — A recusa de alinhamento partidário era comum nos programas de alguns jornais, já desde os finais da primeira metade do século XIX. Esta manifestação de independência em relação aos partidos era contrabalançada por outros casos, em que tal alinhamento se afirmava, logo nos primeiros números.
No primeiro caso — no qual encontramos semelhanças com o programa do jornal lousanense —, encontramos "O Azourrague", que iniciou a sua publicação em 1838. Na sua "Profissão de Fé", declara que "não tem cor política e não pertence a partidos, vibrando estocadas à direita e à esquerda apenas com o fito no bem do Povo".
Exemplo de alinhamento partidário logo à nascença, encontramo-lo em "O Republicano". No seu número 3, dizia:
"Proclamamos a liberdade, igualdade e fraternidade.
Queremos república, porque só ela nos pode salvar.
Queremos um governo de homens inteligentes e honrados.
Queremos recompensas para todos os que bem mereceram da pátria.
Queremos asilo para todos os pobres.
Queremos pão para todos os que têm fome.
Queremos dar instrução a todos os que a desejam.
Queremos que o trabalho seja recompensado.
Queremos, em suma, que não haja só uma classe que seja rica e feliz, enquanto todas as outras vivem na miséria".
José Tengarrinha nota aqui a tendência socializante que, como geralmente aconteceu, acompanhava o incipiente republicanismo na expressão das suas reivindicações sociais.
Mesmo sem nunca se ter declarado republicano, o tónus de grande parte dos artigos de cariz político insertos no "Commercio da Louzã" vão revelar esta tendência socializante, às vésperas da proclamação da República, tempo em que o ideal republicano já deveria estar, mas não estava, claramente definido.
À classificação de "republicanos", Tengarrinha prefere, para os casos dos jornais que se não afirmaram alinhados como tal, posicioná-los como "de extrema esquerda liberal". Tengarrinha, José. "História da Imprensa Periódica Portuguesa", Editorial Caminho, 1989, pág. 234 ss.

4 de Abril de 1909 (1) - O "programma" do jornal

No seu número inaugural, de 4 de Abril de 1909, o "Commercio da Louzã", depois de longos considerandos sobre a necessidade e os riscos de incumprimento de um "Programma", não resistia a avançar com o seu:
"Lançamos hoje aos mares da critica o Commercio da Louzã, e a critica, não resistindo à praxe, pede-nos certamente Programma: — definição de — ao que vimos:
— A dar o nosso esforço, tanto quanto possamos à defeza dos direitos e dos interesses d'este concelho e da sua população, e no firme proposito de seguirmos, d'olhos vendados, como o symbolo da justiça, sem querermos vêr nem conhecer partidos ou partidarios". (Nota 1)
Mas logo neste primeiro número se percebia uma determinada postura ideológica, denotada no ênfase posto à "instrução popular", que perpassava das notícias referentes às comemorações da "Festa da Árvore" em vários pontos do concelho.