No segundo número, explicitava-se melhor o sentido desta esconjuração: não se tratava afinal de renegar a actividade política em si, antes a má política dos maus políticos:
"Em Portugal a politica deixou de ser o conjunto de principios reguladores da vida da nação, para se transformar num simples processo de satisfazer vaidades, crear odios e inutilisar aptidões.
Ser politico, entre nós, não é ser cidadão: é ser o influente eleitoral que procura arranjar o maior número de votos para conseguir as boas graças do chefe, é abastardar a intelligencia, é escravizar a vontade, é muitas vezes afundar o caracter" —lia-se no editorial intitulado "A Crise Nacional", um repositório cáustico das causas que levavam os portugueses a sentir repugnância pela política:
"Hoje em dia nota-se uma repugnancia extraordinaria pela politica, tratando cada um de nós de fugir d'ella como quem foge de um tenebroso abysmo" — sinalizava-se, fazendo-se de seguida o contraponto:
"Será que a politica não traga a quem nella se intromete mais que desgostos, desillusões e prejuizos de dinheiro?
Não é.
Ser politico é ser cidadão: cidadão consciente que trabalha com alma, de boa fé, pelo engrandecimento material e moral do país a que pertence, que intervém em todos os actos da vida nacional, onde é chamada a sua intervenção, com o tributo desinteressado da sua opinião ou do seu voto".
O editorial fechava apontando sintomaticamente a necessidade do "capricho humano mudar para outro caminho". (Nota 2)
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