segunda-feira, 25 de maio de 2009

O convénio com o Transvaal

Nota 9 — O governo era agora presidido pelo regenerador dissidente Venceslau de Lima. Substituíra o progressita Sebastião Teles a 14 de Maio, e haveria de manter-se no cargo até 22 de Dezembro.
O convénio com o Transvaal perturbara bastante o periclitante ministério de Sebastião Teles. Damião Peres retrata assim a situação vivida entre Abril e Maio de 1909:
"Uma questão, levantada em volta dum convénio entre o Govêrno de Moçambique e o Transvaal àcêrca do fornecimento de mão de obra indígena para as minas do Rand, serviu para atribular a curta existência dêsse gabinete. O debate generalizou-se nas duas Câmaras com grande ruído. Na dos Pares, o Conde de Arnoso voltava a clamar por uma investigação rigorosa do regicídio.
À frente do Juízo de Instrução Criminal fôra colocado o magistrado de carreira, António Emílio de Almeida Azevedo, que intentava uma acção de certo vigor contra as sociedades secretas. Logo contra o Irmão Hoche (nome maçónico que o Juiz adoptara quando iniciado na Maçonaria) rompeu uma campanha acesa dos jornais de esquerda.
Não afrouxavam a propaganda nos quartéis nem as aliciações dos oficiais para a revolução republicana.
O govêrno Sebastião Teles, politicamente muito fraco, a-pesar de ter maioria de votos, não podia sustentar-se. Em vão apelou para a dissolução parlamentar. Teve, por isso, que demitir-se".
Peres, Damião. Obra citada, pág. 450 e 451.

Temos de reagir, ainda que por processos violentos

No número onze, o jornal lousanense haveria de retomar o tema, voltando a dar-lhe dignidade de primeira página. F. Duarte insurgia-se contra o tratado, e não tinha pejo em advogar a violência, se fosse caso disso:
"Se não quizermos que este povo de tão gloriosas tradicções historicas, de tão grandes recursos ainda, se afunde na tutela estrangeira, vilipendiosa e miseravel, temos de reagir, ainda que por processos violentos, contra taes systemas de administração e governação publicas". (Nota 9)

Salvar a honra da nação portugueza

Uma questão que agitara sobremaneira o parlamento, com o Partido Republicano a apelar ao esforço do povo, para assim se "salvar a honra da nação portugueza, victima da tyrania do regimem e do despotismo da monarchia nova".
O jornal lousanense a assumir-se, cada vez mais, como um jornal desafecto ao regime, na linha do que já sucedia com outros importantes órgãos da imprensa, a nível nacional. Atente-se, a propósito, numa passagem do artigo de João de Menezes:
"A resolução do congresso mereceu o aplauso incondicional dos jornaes que representam oficialmente o bloco regenerador-dissidente, e esse aplauso foi até ao ponto de se declarar que, á campanha republicana, prestariam os dois partidos monarchicos o seu concurso. No entender d'esses jornaes, o terreno extra-parlamentar, tratando-se d'uma questão de soberania nacional — perante a qual não podia haver distincção de partidos — era mesmo mais proprio do que o terreno parlamentar, para se discutir o gravissimo assumpto".

João de Meneses e a "questão religiosa"

Nota 8 — João de Meneses, deputado republicano, esteve na origem de outra polémica, a "questão religiosa" que haveria de atrapalhar bastante o governo de Venceslau Lima.
"Na Câmara dos Deputados servira de pretexto à batalha um artigo duma proposta de lei de casas baratas, que se supunha conter, numa faculdade ampla de edificação concedida a associações e corporações perpétuas, o meio legal de as congregações religiosas possuírem bens imóveis. O artigo foi, afinal, aprovado; mas a rua tomou conta da questão".
Peres, Damião. Obra citada, pág. 451.

O Congresso do Partido Republicano Português

Nota 7 — O Congresso do Partido Republicano Português realizara-se em Setúbal a 24 e 25 de Abril. O respigo de "A Lucta" aparecia no "Commercio" a 25 de Maio, exactamente um mês depois do plenário setubalense. F. M. Vitorino resume assim as principais conclusões do Congresso:
"O crescimento da facção que defendia a acção revolucionária era tal, que do congresso saiu um novo Directório a quem foi confiado o mandato imperativo de fazer a revolução. Eram seus membros efectivos Teófilo Braga, Basílio Teles, José Relvas, Eusébio Leão e Cupertino Ribeiro (…) Ao Directório foi cometida a tarefa de nomear um comité revolucionário, do qual faziam parte João Chagas, Afonso Costa, António José de Almeida e Cândido dos Reis".
Vitorino, Francisco Manuel. Obra citada, pág. 258 ss.

25 de Maio de 1909

Na edição seguinte (n.º 8, 25.05.1909), a primeira página era quase totalmente preenchida por uma transcrição de um artigo publicado no jornal "A Lucta", que o "Commercio da Louzã" assumia como seu editorial (Nota 6). Artigo "firmado pelo brilhante jornalista e distincto deputado da nação sr. dr. João de Menezes", reportava-se à decisão do congresso republicano que reunira em Setúbal, de "efectuar em todo o paiz um grande movimento nacional para que a convenção luso-transvaaliana seja declarada sem valor algum". (Notas 7 e 8).
Uma questão que agitara sobremaneira o parlamento, com o Partido Republicano a apelar ao esforço do povo, para assim se "salvar a honra da nação portugueza, victima da tyrania do regimem e do despotismo da monarchia nova".

Nota 6 — O jornal "A Lucta" iniciara a sua actividade a 1 de Maio de 1907, sendo dirigido por Brito Camacho.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

18 de Maio de 1909

O jornal já havia defendido a necessidade do "capricho humano mudar para outro caminho", já temera um "desenlace fatal de uma desastrosa catastrofe". A 18 de Maio de 1909, sob o título "Que virá?…", F.Duarte preenchia as reticências com o que arriscava ser a vontade do povo sofrido de então:
"No seu animo, começa a predominar com afincada insistencia a ideia de fazer estalar e ruir um systema de instituições que, deformadas e sophismadas, o acorrentam a uma vida de sofrimentos, miseria e sobressaltos".

segunda-feira, 4 de maio de 2009

4 de Maio de 1909 - Congresso republicano responsável pelo tremor de terra!

"João Ninguém" encarregava-se, na edição cinco, dos primeiros afloramentos ao movimento republicano. Então não é que havia quem atribuísse à realização de um congresso republicano em Setúbal a responsabilidade pelo tremor de terra que sacudira Portugal a 23 de Abril?!

No mesmo número, partido tomado a favor dos pobres, contra a carestia do pão:
"Mais um pouco de amor pelos pobresinhos, senhores padeiros, que elles nem sempre teem os estomagos dispostos a ingerir pão de milho!"

Ainda nesta edição, o elogio ao pároco chamado a pregar o sermão à chegada de Nossa Senhora da Piedade. Um elogio que mostrava já, de forma clara, para que lado pendiam as simpatias do jornal lousanense:
"O sr. padre José Amaro, com o seu discurso fluente e correcto, historico-socialista, conseguiu, em parte, agradar immenso ao selecto auditorio. Os nossos parabens".